quarta-feira, 23 de março de 2011

A superação do "consumismo"!


O despontar da revolução industrial e da economia de mercado, arrastou progressivamente os seres humanos para a prática do
 "egocentrismo": cada qual olha apenas para as suas necessidades, quer sempre ter mais e mais "coisas", quer sempre  ser mais importante, ou pelo menos não ficar atrás do vizinho ! 



Essa cultura do egocentrismo, levou à hiper-valorização do TER sobre o SER, e à fetichização das sociedades actuais. 



O consumismo contribui ainda mais para exacerbar essas tendências egoísticas e de vaidade, fazendo prevalecer o signo da troca e machucando o intercâmbio cultural natural entre os seres humanos. 



Nas nossas sociedades consumistas, vale tudo para vender o supérfluo, e o marketing não hesita em usar as leis económicas para machucar a própria economia: em vez da Oferta se adaptar à Procura, procura forçar-se a Procura dos consumidores a adaptar-se à Oferta dos produtores!



 Nessa cruzada de marketing, visando a conversão dos seres humanos ao consumismo "cego", é utilizado sem escrúpulos o chamado "efeito padrão", pelo qual as classes de rendimentos mais baixos tendem a imitar o comportamento das classes com mais elevados rendimentos! 



Resultado: as classes de rendimentos mais baixos endividam-se (aí estão os cartões de crédito para as explorarem até à medula, com taxas de juro exorbitantes) para terem bens, mesmo que supérfluos, mas que se tornaram importantes no ponto de vista do seu exibicionismo social, isto é do ponto de vista  do TER! 



Com esse comportamento nem se respeita a vida animal (casacos de pele, estofos de pele, ..., dão prestígio social), nem a natureza ( hiper-exploração dos seus recursos não renováveis e até, pasme-se,  construção de centrais nucleares em zonas sísmicas)!



 Por isso  é imperioso lutar, como o vem referindo Paulo Borges  por um novo  paradigma cultural, o qual deve  objectivar uma cultura civilizacional baseada na dignidade e respeito por todos os animais (seres humanos incluídos) e pelo ecossistema natural 



Trata-se afinal de começarmos a ser norteados por valores éticos universalistas, introdutores de uma visão holística no nosso quotidiano, e no nosso relacionamento respeitador e equilibrado com todos os seres gerados pela Natureza e com a própria Natureza.



Como referido por Paulo Borges 


 «nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar». 


Ontem às 17:30 · 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Um ponto de vista sobre os PEC

Como sabemos, os designados Planos de Estabilidade e Crescimento,  surgiram da necessidade de ser mantido, ao nível geral dos Estados Membros da UE, o equilíbrio orçamental.
Tal necessidade tornou-se premente, com a criação da Zona Euro, a qual estabeleceu a moeda única europeia  num conjunto de Países Membros aderentes, que se caracterizavam por demonstrarem uma certa estabilidade e equilíbrio dos seus indicadores macro-económicos.
 Assim e por forma a salvaguardar a afirmação do EURO, como moeda de troca e de reserva de valor , ao nível europeu e internacional, os Estados Membros comprometiam-se a fazer prevalecer o equilíbrio orçamental, não devendo os défices respectivos, excederem  3%, em cada um deles.
Mas o facto é que a UE ao lançar o EURO, esqueceu-se que, quem manda na moeda é a Economia, e ao avançar para a União Monetária, sem primeiro assegurar no seio da UE a União Económica e Política, foi como ter colocado o “carro à frente dos bois”!
Para piorar, a coesão económica e social, no seio dos países aderentes ao EURO era inexistente à partida, sendo que os guardiões do EURO (BCE à cabeça) começaram a gerir as taxas de juro, de acordo com os interesses dos países membros de economia mais forte (Alemanha e França), desprezando os reais interesses dos países membros periféricos, de economia mais débil (Portugal, Grécia,  ...).
O BCE para salvaguardar o controlo da inflação, resultante dos níveis de crescimento  económico mais   acelerado dos países de economia forte (Alemanha e França), subia as suas  taxas de juro , dificultando o investimento e o crédito nos países membros de economia mais débil.
Por seu lado, a adesão ao EURO, reduziu os instrumentos de política económica dos seus países membros praticamente  à fiscalidade, e daí que os países de economia mais débil, como tentativa de manter equilibrados os seus défices orçamentais, procuravam refrear o consumo interno através da manipulação da carga fiscal imposta às suas populações.
Ou seja, os PECs passaram na realidade a ser apenas Planos de Estabilidade para os países membros do EURO,  de economia mais débil, já que redundavam na prática, na tomada de medidas com tendencia recessiva na economia (propiciadoras de desemprego crescente), visando manter  o défice orçamental abaixo dos 3%, caso contrário estavam inclusive sujeitos a pesadas multas monetárias das autoridades da UE.
A par da fiscalidade  os países de economia mais débil viram-se obrigados a conter as suas políticas sociais e salariais, pois o seu crescimento acabaria por se reflectir na necessidade de aumentar ainda mais a já pesadíssima carga fiscal!
Portanto, para os países membros da zona EURO, os PECs, redundaram na prática, na tomada de medidas recessivas para a economia, implicando baixas ou nulas taxas de crescimento económico, com as consequências respectivas no acréscimo de desemprego, da contenção das despesas sociais e salariais, e no acréscimo de carga fiscal.
Todas essas consequências eram  como que derivadas da própria política monetária do BCE que subia as suas taxas de juro, para prevenir a subida da inflação na zona Euro, prejudicando gravemente dessa forma as Economias dos países membros de economia já débil.
Na realidade os PEC  passaram a ser  PEC nos países de economia forte (Alemanha, França,...), pois para os países de economia mais débil (Portugal, Grécia, ...) os PEC  tornaram-se  afinal e realmente, em imposições de contenção das despesas sociais e salariais, e de acréscimo da carga fiscal,  imposições essas que ao longo dos anos implicaram acrescidas taxas de desemprego, redução dos apoios sociais, e baixos salários (e estes problemas tornaram-se tanto mais gravosos quanto mais débeis eram as respectivas economias desses países membros da zona euro (casos  de Portugal,  Grécia ,...).   
A crise financeira global, com epicentro nos EUA, só veio complicar ainda mais a situação dos países membros da zona euro, com economia mais débil.
O BCE e demais autoridades da UE, permitiram que todos os seus países membros abdicassem transitóriamente dos limites estipulados nos PEC para os seus défices, isso para evitar sobressaltos sociais significativos que por certo seriam provocados pela forte recessão económica que atingiu todo o mundo. Portugal, Grécia, Espanha, ... , alargaram a bolsa, as políticas sociais aumentaram transitoriamente, a contenção salarial abrandou, os impostos estiveram sossegados, e, ...., os défices subiram da casa dos três para a casa dos nove por cento, nomeadamente nesses países.
Mas uma vez  restabelecida a evolução normal do crescimento económico nos países de economia forte (Alemanha, França, ..), logo o BCE e demais autoridades da UE, vieram a terreiro  impôr uma rápida descida dos défices orçamentais aos países membros de economia débil (Portugal, Grécia, ...).
Ou seja, os países membros de economia forte  da zona euro, impuseram ao BCE e à CE, que obrigassem os países membros de economia mais débil, a rapidamente retomarem os défices para a casa dos três por cento (até 2013).
Mais uma vez, e com desprezo total pela coesão económico social, o BCE e a CE, de forma indecente, porque sabendo que essa rápida inlexão do défice, em países com fortes taxas de desemprego, baixos salários  e com pesada carga fiscal, (casos da Portugal, Grécia e Espanha), poderia provocar fortes convulsões sociais, e no mínimo conduziria à recessão económica desses países agravado a pobreza geral das suas populações.
Isto é o PEC tornou-se de facto num Plano de Instabilidade Económico Social e de Pobreza Crescente nos países membros da UE com economia mais débil (Grécia, Portugal, ...): cortes salariais generalizados e subida dos impostos sobre o rendimento, subida das taxas de juro, e recessão económica derivada directamente dessas políticas.
A acrescer a este ATAQUE dos países membros da zona EURO de economia forte aos países membros da zona euro de economia débil, o BCE e a CE, a mando da Alemanha e França, impediram que esses países pudessem beneficiar ainda que transitoriamente de financiamentos directos da UE às suas economias, deixando-os à mercê dos mercados financeiros (diga-se banqueiros nacionais e internacionais, que se financiavam a 1% no BCE e passavam a emprestar a 7% a esses países)!
Trata-se de uma política que nada tem de estabilidade nem de crescimento, e que provoca o afundamento das economias desses países membros “à rasca”, com o agravamento exponencial dos seus problemas de desemprego e pobreza.!        
Neste contexto, todo o acréscimo de sacrifícios impostos pelos PEC , traduzem-se afinal em maior carga fiscal, menores gastos socias do Estado, menores salários (e por acréscimo relações laborais do tipo “esclavagista” – digo de capitalismo selvagem) e maior e insustentável pobreza das populações.
Esses PEC (sacrifícios impostos pelos países membros da zona euro de economia forte (Alemanha, França, ..) nada resolvem e só pioram e afundam a economia dos países ditos periféricos da UE, e traduzem-se afinal numa escandalosa transferência de dinheiro das populações para os banqueiros nacionais e internacionais, tornados usurários desses países, em virtude de a UE/BCE serem impedidos pela Alemanha/França de fin anciarem directamente a dívida “soberana” desses países de economia mais débil.
Acresce que essas medidas que acentuam a miséria e a marginalização de largas camadas da população do mercado de trabalho, e ao mesmo tempo enriquecem mais os banqueiros, nunca foram sufragadas eleitoralmente pelos respectivos eleitorados, pelo que se torna imperioso e urgente, que em cada um desses países sejam realizadas eleições legislativas “imediatas”, como forma de o eleitorado poder votar nesses programas de miséria económico-social crescente, que consubstanciam actualmente os PEC  ilegitimamente impostos a esses países membros da zona euro de economia mais débil. 
Se  os partidos que irracionalmente defendem a aplicação desses PEC forem os mais votados, então ficam legitimados pelo povo para o roubarem à vontade, e para conduzirem as respecyivas economias para o abismo económico-social e financeiro.
Mas por certo haverá partidos que saberão impôr à UE/BCE políticas económicas alternativas, que priviligiem o crescimento normal da economia ( com tónica nas exportações), compatíveis com a manutenção razoável de apoios sociais e de salários condignos, (que possibilitem a paz, o pão, a saúde  e a habitação), e que reduzirão os seus défices orçamentais, de forma lenta mas sustentável!
O caminho, passará aliás pela união de esforços desses países membros da zona euro, com economia mais débil, para imporem os seus interesses ao BCE/UE, de forma determinada, obrigando ao arrepiar do apetite voraz dos Banqueiros dos países membros da zona euro  de economia forte, e fazendo-os retomar os caminhos da coesão económico social. 
Está na hora de os eleitores aprenderem que o seu voto tem consequêncioas muito sérias sobre o seu futuro, o futuro dos seus filhos e o próprio futuro do seu país!